Irmã Benedita de Fátima*
A cena natalina, representada por meio da figura singela dos
presépios, nos leva a refletir sobre o que acontece na luta contra a
aids. Apesar do desenvolvimento tecnológico e dos avanços importantes da
ciência nessa área, a humanidade pouco aprendeu com a lição de Belém,
que é o nascimento de Jesus.
O filho de Deus veio ao mundo de maneira absolutamente simples e
humilde, como mostra a imagem da manjedoura, coberta de palhas, em que
ele se deitou ao nascer. Ele poderia ter nascido num palácio, mas quis
assumir o espírito da humildade. Veio ao mundo para salvar toda a
humanidade mas se colocou ao lado dos humildes e dos excluídos.
É como essa lição que temos de aprender. Ao melhorar a qualidade de
vida dos soropositivos, a ciência cumpre o seu papel. Felizmente são
muitos os avanços em relação aos medicamentos e aos métodos preventivos.
Porém, o acesso das pessoas a estas tecnologias, especialmente das mais
vulneráveis, continua dificultado.
Num contexto social excludente, preconceituoso e marginalizador, a
pessoa soropositiva é obrigada a viver no silêncio e no anonimato porque
os “Herodes” seguem com a sua perseguição em pleno século 21.
Para quem não se lembra da passagem bíblica, o rei Herodes, ao
descobrir que o Menino Jesus tinha nascido, o viu como uma concorrência e
uma ameaça ao seu poder. Por isso, decidiu eliminá-lo. Para que não
restasse dúvidas de que ele não sobreviveria, mandou seus seguidores
perseguirem e matarem todos os meninos abaixo de três anos.
Os “Herodes” de hoje são os que condenam à morte social, e
consequentemente à morte física/clínica, as pessoas vivendo com
HIV/aids. Fazem isso discriminando, excluindo, deixando à margem,
condenando. Dificultam uma prevenção melhor e mais direcionada pois,
temendo a condenação, os soropositivos se escondem. Não vão a uma
manifestação da luta contra a aids pois temem ser vistos por vizinhos ou
parentes. Pelo mesmo motivo, muitos não procuram um serviço de saúde,
não aderem ao tratamento e acabam, assim, morrendo.
Por causa do julgamento moral da sociedade, muitos acreditam que não
têm mesmo direito à vida, que o que têm já é demais, como se fossem
culpados de ter HIV.
É neste cenário que somos convidados e convidadas a voltar o nosso olhar
para o estábulo de Belém a fim de contemplar e aprender que na
simplicidade da manjedoura o acolhimento e a humildade do Divino se
revelam no encontro com o humano.
Que ao celebrarmos mais uma vez o Natal, possamos fazer a experiência
com o nosso Deus-Amor que deseja nos tornar um pouco mais divinos na
relação com os nossos semelhantes.
Que a paz, a alegria e o amor possam se fazer presentes na vida de todos nós no decorrer de 2016.
Abençoado Natal e um ano novo de sonhos, esperanças e realizações a todos.
BOAS FESTAS!
* Irmã Benedita de Fátima , psicóloga e técnica do Cefran - Centro Francisco de Luta Contra a Aids