Ele conta os detalhes da festa que reunirá Ricky
Martin, Naomi Campbell e Ivete Sangalo em São Paulo nesta sexta-feira
(15)
Bruno Astuto
Nesta
sexta-feira (15), todas as atenções se voltam para a casa do empresário Dinho
Diniz, em São Paulo, quartel general da 6ª edição do Inspiration Gala da
amfAR — Fundação para a Pesquisa da AIDS. Entre as atrações, Ricky Martin,
que fará um dueto com Ivete Sangalo, e a top Naomi Campbell. Mas
deixando glamour do tapete vermelho que promete de lado, a causa é de extrema
importância. "A instituição beneficiada de 2016 será a Sociedade
Viva Cazuza", afirma Kevin Frost, CEO da amfAR, que na reta
final de todos os preparativos para o evento, bateu um papo com a coluna:
Como
estão os avanços nas pesquisas para encontrar a cura do HIV?
A
pesquisa para a cura do HIV tem sido incrivelmente excitante nos dias de hoje.
Nós recentemente anunciamos a criação do Instituto amfAR para pesquisa da cura
do HIV, que é uma iniciativa colaborativa inovadora, localizada na Universidade
da Califórnia, São Francisco. É o principal pilar da estratégia de investimento
de US$ 100 milhões na pesquisa da cura, e seu objetivo será desenvolver a base
científica da cura para o HIV até o fim de 2020. Desde o lançamento da Contagem
Regressiva para a Cura, em 2014, já investimos mais de US$32 milhões de dólares
em torno da iniciativa, apoiando mais de 115 cientistas em 44 instituições de
pesquisa em todo o mundo.
É
difícil falar na, o vírus mutante. E faltam 4 anos para o fim da contagem
regressiva, estipulada para 2020, feita por vocês. Como crer nesse prazo?
Eu
me lembro de quase 10 anos atrás, muitas pessoas dentro da comunidade
científica de HIV/AIDS pensavam que era impossível encontrar uma cura. Mas
houve uma mudança drástica desde então. O ceticismo generalizado foi
substituído por um otimismo genuíno em busca da cura entre os pesquisadores. Eu
acredito que a cura poderia ter uma série de formas. É possível que ela se
pareça mais com o tipo de remissão em longo prazo que estamos acostumados a ver
no câncer. O vírus ainda pode estar lá, mas mantido permanentemente num
compartimento, como resultado de uma intervenção ou outra, ou uma combinação de
terapias que criam remissão. Acreditamos que vamos ter alcançado uma remissão
se uma pessoa não é mais infecciosa, não requer tratamento ao longo da vida com
a terapia antirretroviral, e não tem vírus detectável durante pelo menos cinco
anos. O que precisamos fazer é construir a ciência em torno da cura. Esta é a
nossa meta para 2020, e nós sabemos que isso será gradual e evolutivo. Nós já
identificamos a principal barreira – os reservatórios, ou bolsos, de vírus que
permanecem em uma pessoa, mesmo depois de terem atingido o chamado nível
'indetectável' de HIV como resultado da terapia antirretroviral.
Quais
as descobertas científicas apoiadas pela amfAR?
Durante
os primeiros anos da epidemia, nós apoiamos um estudo pioneiro da cientista
Ruth Ruprecht, de Harvard, sobre a prevenção da transmissão do HIV de mãe para
filho, usando antirretrovirais. Agora somos capazes de prevenir a transmissão
aos recém-nascidos. Há outro estudo dessa época, que descobriu como o vírus
entra na célula. O caso de Timothy Brown, conhecido como o 'Paciente de
Berlim', foi a primeira pessoa considerada curada do HIV, após o tratamento na
Alemanha, é um exemplo. Ele precisava de um transplante de células-tronco e
encontrou um doador. Ele não foi re-infectado e tem estado curado do HIV por
anos. Das seis classes de drogas que tratam as pessoas com HIV, quatro delas
encontraram seus caminhos através da pesquisa apoiada pela amfAR.
Como
você se tornou ativista na luta contra a doença?
Não
era algo que eu queria fazer na vida. Eu estudei música e queria ser um cantor
de ópera. Eu me mudei para Nova York em 1990, e aqueles eram tempos terríveis.
A AIDS estava em toda parte. Pessoas morrendo. Os hospitais estavam
superlotados. Alguns deles não atendiam pessoas com AIDS. A epidemia tem sido a
maior ameaça à saúde para a comunidade gay - minha comunidade - que já existiu.
Eu estava com medo de que eu iria morrer. Eu não podia ficar como um espectador
inocente e não fazer nada. Então, eu só fiz o que pude. Eu me tornei um
ativista e comecei a trabalhar em um hospital de Nova York, em seu programa de
pesquisa sobre a AIDS. Comecei a amfAR há 22 anos, como assistente do diretor
de pesquisa. E eu simplesmente fiquei.
Esse
medo de morrer de AIDS passou?
Apesar
do aumento de novas infecções pelo HIV entre jovens de todo o mundo, muitas
vezes as pessoas jovens não se percebem como um grupo de risco para o HIV/AIDS.
Isso levou a um declínio no sexo seguro entre eles. Este grupo nasceu após os
primeiros casos terem ganhado as manchetes. Muitos adultos jovens no Brasil,
Estados Unidos e muitos outros países nunca conheceram um mundo sem AIDS. Mas
saber sobre a doença e acreditar que você está pessoalmente em risco são coisas
diferentes. E, muitas vezes, os jovens não acreditam que estão em risco.
Os
Galas são tão glamourosos para chamar a atenção da mídia? Não seria mais
eficiente reunir pesquisadores e médicos do que celebridades e modelos?
Na
amfAR fazemos as duas coisas. Nossas reuniões de cientistas e pesquisadores
podem não conseguir manchetes nos meios de comunicação, mas eles são
importantes para ajudar a conduzir diretamente a pesquisa rumo à cura. Nós
também fomos abençoados de ter o apoio de tantos artistas e celebridades
assistindo nossos eventos de gala e nos ajudando a ampliar nossa missão de
encontrar uma cura para a AIDS. Eu acho que uma das principais razões pelas
quais celebridades e muitos outros do mundo do entretenimento têm apoiado a
amfAR por tantos anos é por causa do legado que Elizabeth Taylor, uma das
co-fundadores da amfAR (in memorian), deixou para trás. Ela foi uma das
primeiras celebridades a se manifestar contra a AIDS, o estigma e a
discriminação que afetou tantas pessoas que vivem com a doença. Ela entendeu
que poderia usar sua fama para algo bom e se tornou uma das vozes mais fortes
na luta contra a epidemia. Hoje celebridades têm aprendido com ela e querem
usar sua fama no apoio de causas nobres. Felizmente, muitos deles estão
seguindo os passos da Dama Elizabeth e estão apoiando a amfAR em nosso esforço
para encontrar a cura.
Falando
em celebridades, quais as maiores parceiras de vocês?
Temos
a sorte de ter uma longa lista de top celebridades que têm apoiado amfAR ao
longo dos anos, viajando por todo o mundo e ganhando a atenção da imprensa que
vai junto com o seus poderes de estrelas. Isto inclui a nossa presidente de
campanha global, Sharon Stone, e outros defensores, incluindo Milla Jovovich,
Kate Moss, Heidi Klum, Naomi Campbell, Uma Thurman e Leonardo DiCaprio.
Quanto
espera arrecadar no próximo evento?
Nós
esperamos que o Inspiration Gala São Paulo seja um sucesso assim como as
últimas cinco edições. Nossos grandes apoiadores, como Kate Moss, Naomi
Campbell, a família Diniz, Ricky Martin e outras celebridades e patrocinadores
vão trazer a mesma quantidade de brilho e energia para o nosso evento, o que
irá nos ajudar a arrecadar fundos para as pesquisas do HIV/AIDS. Ao longo dos
nossos 30 anos de história, amfAR encarou vários desafios e entendemos que o
Brasil está passando por um momento crítico. Mesmo assim, a questão continua
sendo um problema de saúde pública no país. Existem quase 800 mil pessoas
vivendo com a doença no Brasil e é por isso que precisamos agir.