sexta-feira, 15 de abril de 2016

"Existem 800 mil pessoas vivendo com AIDS no Brasil, precisamos agir", diz Kevin Frost, CEO da amfAR

Ele conta os detalhes da festa que reunirá Ricky Martin, Naomi Campbell e Ivete Sangalo em São Paulo nesta sexta-feira (15) 
Bruno Astuto


 

Nesta sexta-feira (15), todas as atenções se voltam para a casa do empresário Dinho Diniz, em São Paulo, quartel general da 6ª edição do Inspiration Gala da amfAR — Fundação para a Pesquisa da AIDS. Entre as atrações, Ricky Martin, que fará um dueto com Ivete Sangalo, e a top Naomi Campbell. Mas deixando glamour do tapete vermelho que promete de lado, a causa é de extrema importância.  "A instituição beneficiada de 2016 será a Sociedade Viva Cazuza", afirma Kevin Frost, CEO da amfAR, que na reta final de todos os preparativos para o evento, bateu um papo com a coluna:
Como estão os avanços nas pesquisas para encontrar a cura do HIV?
A pesquisa para a cura do HIV tem sido incrivelmente excitante nos dias de hoje. Nós recentemente anunciamos a criação do Instituto amfAR para pesquisa da cura do HIV, que é uma iniciativa colaborativa inovadora, localizada na Universidade da Califórnia, São Francisco. É o principal pilar da estratégia de investimento de US$ 100 milhões na pesquisa da cura, e seu objetivo será desenvolver a base científica da cura para o HIV até o fim de 2020. Desde o lançamento da Contagem Regressiva para a Cura, em 2014, já investimos mais de US$32 milhões de dólares em torno da iniciativa, apoiando mais de 115 cientistas em 44 instituições de pesquisa em todo o mundo. 
É difícil falar na, o vírus mutante. E faltam 4 anos para o fim da contagem regressiva, estipulada para 2020, feita por vocês. Como crer nesse prazo?
Eu me lembro de quase 10 anos atrás, muitas pessoas dentro da comunidade científica de HIV/AIDS pensavam que era impossível encontrar uma cura. Mas houve uma mudança drástica desde então. O ceticismo generalizado foi substituído por um otimismo genuíno em busca da cura entre os pesquisadores. Eu acredito que a cura poderia ter uma série de formas. É possível que ela se pareça mais com o tipo de remissão em longo prazo que estamos acostumados a ver no câncer. O vírus ainda pode estar lá, mas mantido permanentemente num compartimento, como resultado de uma intervenção ou outra, ou uma combinação de terapias que criam remissão. Acreditamos que vamos ter alcançado uma remissão se uma pessoa não é mais infecciosa, não requer tratamento ao longo da vida com a terapia antirretroviral, e não tem vírus detectável durante pelo menos cinco anos. O que precisamos fazer é construir a ciência em torno da cura. Esta é a nossa meta para 2020, e nós sabemos que isso será gradual e evolutivo. Nós já identificamos a principal barreira – os reservatórios, ou bolsos, de vírus que permanecem em uma pessoa, mesmo depois de terem atingido o chamado nível 'indetectável' de HIV como resultado da terapia antirretroviral.
Quais as descobertas científicas apoiadas pela amfAR?
Durante os primeiros anos da epidemia, nós apoiamos um estudo pioneiro da cientista Ruth Ruprecht, de Harvard, sobre a prevenção da transmissão do HIV de mãe para filho, usando antirretrovirais. Agora somos capazes de prevenir a transmissão aos recém-nascidos. Há outro estudo dessa época, que descobriu como o vírus entra na célula. O caso de Timothy Brown, conhecido como o 'Paciente de Berlim', foi a primeira pessoa considerada curada do HIV, após o tratamento na Alemanha, é um exemplo. Ele precisava de um transplante de células-tronco e encontrou um doador. Ele não foi re-infectado e tem estado curado do HIV por anos. Das seis classes de drogas que tratam as pessoas com HIV, quatro delas encontraram seus caminhos através da pesquisa apoiada pela amfAR.
Como você se tornou ativista na luta contra a doença?
Não era algo que eu queria fazer na vida. Eu estudei música e queria ser um cantor de ópera. Eu me mudei para Nova York em 1990, e aqueles eram tempos terríveis. A AIDS estava em toda parte. Pessoas morrendo. Os hospitais estavam superlotados. Alguns deles não atendiam pessoas com AIDS. A epidemia tem sido a maior ameaça à saúde para a comunidade gay - minha comunidade - que já existiu. Eu estava com medo de que eu iria morrer. Eu não podia ficar como um espectador inocente e não fazer nada. Então, eu só fiz o que pude. Eu me tornei um ativista e comecei a trabalhar em um hospital de Nova York, em seu programa de pesquisa sobre a AIDS. Comecei a amfAR há 22 anos, como assistente do diretor de pesquisa. E eu simplesmente fiquei.
Esse medo de morrer de AIDS passou?
Apesar do aumento de novas infecções pelo HIV entre jovens de todo o mundo, muitas vezes as pessoas jovens não se percebem como um grupo de risco para o HIV/AIDS. Isso levou a um declínio no sexo seguro entre eles. Este grupo nasceu após os primeiros casos terem ganhado as manchetes. Muitos adultos jovens no Brasil, Estados Unidos e muitos outros países nunca conheceram um mundo sem AIDS. Mas saber sobre a doença e acreditar que você está pessoalmente em risco são coisas diferentes. E, muitas vezes, os jovens não acreditam que estão em risco.
Os Galas são tão glamourosos para chamar a atenção da mídia? Não seria mais eficiente reunir pesquisadores e médicos do que celebridades e modelos?
Na amfAR fazemos as duas coisas. Nossas reuniões de cientistas e pesquisadores podem não conseguir manchetes nos meios de comunicação, mas eles são importantes para ajudar a conduzir diretamente a pesquisa rumo à cura. Nós também fomos abençoados de ter o apoio de tantos artistas e celebridades assistindo nossos eventos de gala e nos ajudando a ampliar nossa missão de encontrar uma cura para a AIDS. Eu acho que uma das principais razões pelas quais celebridades e muitos outros do mundo do entretenimento têm apoiado a amfAR por tantos anos é por causa do legado que Elizabeth Taylor, uma das co-fundadores da amfAR (in memorian), deixou para trás. Ela foi uma das primeiras celebridades a se manifestar contra a AIDS, o estigma e a discriminação que afetou tantas pessoas que vivem com a doença. Ela entendeu que poderia usar sua fama para algo bom e se tornou uma das vozes mais fortes na luta contra a epidemia. Hoje celebridades têm aprendido com ela e querem usar sua fama no apoio de causas nobres. Felizmente, muitos deles estão seguindo os passos da Dama Elizabeth e estão apoiando a amfAR em nosso esforço para encontrar a cura.
Falando em celebridades, quais as maiores parceiras de vocês?
Temos a sorte de ter uma longa lista de top celebridades que têm apoiado amfAR ao longo dos anos, viajando por todo o mundo e ganhando a atenção da imprensa que vai junto com o seus poderes de estrelas. Isto inclui a nossa presidente de campanha global, Sharon Stone, e outros defensores, incluindo Milla Jovovich, Kate Moss, Heidi Klum, Naomi Campbell, Uma Thurman e Leonardo DiCaprio.
Quanto espera arrecadar no próximo evento?

Nós esperamos que o Inspiration Gala São Paulo seja um sucesso assim como as últimas cinco edições. Nossos grandes apoiadores, como Kate Moss, Naomi Campbell, a família Diniz, Ricky Martin e outras celebridades e patrocinadores vão trazer a mesma quantidade de brilho e energia para o nosso evento, o que irá nos ajudar a arrecadar fundos para as pesquisas do HIV/AIDS. Ao longo dos nossos 30 anos de história, amfAR encarou vários desafios e entendemos que o Brasil está passando por um momento crítico. Mesmo assim, a questão continua sendo um problema de saúde pública no país. Existem quase 800 mil pessoas vivendo com a doença no Brasil e é por isso que precisamos agir.

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